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Agronegócio em perspectiva: hoje, que aspecto da agenda do agronegócio mais impacta a indústria têxtil?
- Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

“Há dois temas do Seminário que nos chama a atenção. O primeiro é algo comum em outros setores da economia, que é a deficiência da infraestrutura. Já está provado que o Brasil perde muito dos ganhos obtidos com técnicas modernas de cultivo devido às ineficiências encontradas da porteira para fora. Para a indústria têxtil e de confecção, um algodão que custe mais a ser transportado das zonas produtoras para as consumidoras é perda de competitividade a partir da matéria-prima, antes mesmo da produção. Infra é um tema chave e o próximo governo terá que tratar com muita atenção, sob pena de continuarmos a perder capacidade de concorrer no mercado mundial.

O segundo elemento é a inovação. O algodão brasileiro tem uma característica importante no mundo, que é o fato de 70% da produção atenderem a preceitos internacionais de sustentabilidade (BCI – Better Cotton Initiative). Agora veremos como essa cultura vai se posicionar quanto ao futuro dos materiais têxteis, diante da indústria 4.0, da manufatura aditivada que é o 3D, o que demanda investimento em P&D.  O Brasil tem grande potencial nos biomateriais, a partir de outros produtos da agricultura, que serão chave para a nossa competitividade daqui em diante.”

 

 

A Abit apoia o I Seminário Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro.

 


Agronegócio em perspectiva: desafios para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro

- Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

“O agronegócio brasileiro tem um potencial magnífico.  Mas o setor ainda não conta com uma política de estado que atenda às necessidades de um país tropical quanto a seguro rural e crédito, cujos valores têm sido fortemente contingenciados. Para se ter uma ideia, entre 1980 e 1988 os gastos públicos com a função agricultura somavam 8,5% do total. Entre 1990 e 2015, essa média caiu para 2%. Com isso, o produtor tem tido de se financiar muito mais com recursos próprios. É preciso reverter esse quadro, pois o efeito multiplicador do agronegócio é pujante. Cada R$ 1 milhão investido no agronegócio gera R$ 3,3 milhões em produção, 49 empregos diretos, R$ 367 mil em salários e agrega R$ 1,16 milhão ao PIB.”

 

A CNA apoia o I Seminário Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro.

 

 


Agronegócio em perspectiva: qual o principal item da agenda logística da Aprosoja

- Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja)

“Nossa agenda este ano é que não falte dinheiro para garantir acesso com qualidade às estações de transbordo e aos terminais portuários – que receberam um grande montante em investimentos –, para que se consiga reduzir o valor do frete. Precisamos de recursos para a BR-163, para a adequação da capacidade da BR-158, e para as obras que estão sendo feitas na BR-364. Todas elas dependem de dinheiro público, porque são obras de acesso. Para este ano, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) programou para essas três rodovias, respectivamente, R$ 163 milhões, R$ 60 milhões e R$ 50 milhões. Precisamos garantir esse valores e aumenta-los no que for possível.”

A Aprosoja apoia o I Seminário Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro.

 

 


Agronegócio em perspectiva: como garantir o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis?

- Marcelo Vieira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

O agronegócio brasileiro já é protagonista na agenda climática global, lidera debates sobre a economia de baixo carbono e atua com base na legislação mais exigente do planeta, o Código Florestal. Bons exemplos não faltam para que o setor supere o ultrapassado estigma de “prejudicial ao meio ambiente". Os investimentos feitos pelo setor produtivo precisam agora ser reconhecidos e remunerados pelo mercado, para que essa transição para um futuro sustentável seja ancorada em oportunidades econômicas e sociais para os produtores rurais e todos os brasileiros. Os produtores, figuras-chave nesse processo, também devem ter seu espaço de representatividade nas mesas de negociações para compartilhar os desafios da dinâmica do agronegócio. Ou seja, o desenvolvimento de práticas sustentáveis só será alcançado com o equilíbrio entre as demandas ambientais e as necessidades da atividade rural.

 

A SRB apoia o I Seminário Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro.

 


Em busca de um novo impulso

Publicado na Conjuntura Econômica 10/2017

 

Depois de passar uma década sob várias provações que comprometeram sua capacidade de expansão, novamente a indústria brasileira do etanol tem seus nervos testados. Desta vez, à espera de definições sobre o encaminhamento do RenovaBio, programa que poderá dar previsibilidade e incentivar a retomada de investimentos na atividade sucroalcooleira. 
 
A resolução do RenovaBio foi publicada em junho, e agora os atores do setor aguardam com expectativa a decisão do governo de seguir sua tramitação por projeto de lei ou medida provisória. No final de setembro, o ministro ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho havia declarado, em evento no Nordeste, que o encaminhamento do RenovaBio aconteceria na primeira quinzena de outubro. No início do mês, entretanto, a assessoria do MME não confirmou esse prazo à Conjuntura Econômica e, na mídia, indicava-se que a demora vinha da resistência do Ministério da Fazenda e do Banco Central ao projeto, que identificavam riscos do programa provocar pressão inflacionária, por incentivar o aumento de demanda. 
 
O RenovaBio, que começou a ser gestado em dezembro de 2016, definirá o papel dos biocombustíveis – etanol, biodiesel, biogás e bioquerosene – no compromisso firmado pelo Brasil na 21a Conferência do Clima (COP 21) de, até 2025, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% em relação aos níveis de 2005, com uma contribuição indicativa de chegar a 43% em 2030. Esse empenho inclui garantir uma participação de 18% da bioenergia na matriz até 2030. O sistema proposto no programa conta, de um lado, com a definição de metas nacionais de descarbonização no mercado de combustíveis, que devem ser divididas entre os distribuidores e revisadas a cada década. De outro, prevê uma certificação para os biocombustíveis, dada a cada usina de acordo ao seu processo de produção, e que servirá como base para a emissão de créditos de descarbonização (CBIOs) a serem negociados em bolsa. 
 
Estimativas do MME indicam que, sem uma política pública voltada para os biocombustíveis, a perda de competitividade do etanol hidratado registrada na última década deverá comprometer sua participação no abastecimento de combustível do país, caindo de 48% observados em 2015 para 29% em 2030. Cálculos da consultoria Datagro apontam que os ganhos de produtividade estimulados pelo programa poderão resultar em uma redução de custos de 12,2% a 29,4% dos atuais. A nota explicativa sobre a proposta do RenovaBio também alerta para a importância dos biocombustíveis na mitigação da dependência brasileira da importação de combustíveis derivados do petróleo, que este ano poderá somar R$ 17 bilhões em compras líquidas, ou seja, já descontada a exportação. Segundo o MME, para que em 2030 o país se garanta na fronteira da autossuficiência em gasolina, perdida em 2011, seria preciso ampliar a produção de etanol hidratado dos 17 bilhões de litros em 2016 para 44 bilhões em 2016. 
 
Plinio Nastari, presidente da Datagro, é uma das vozes que defende celeridade no processo. “O programa tem adesão e apoio de produtores, distribuidoras, da Petrobras, acionistas e ONGs. Raras vezes se chegou a um grau de convergência tão grande quanto o que foi atingido com o RenovaBio”, diz. Na opinião do especialista, se aprovado conforme a minuta original, será a primeira vez, em 42 anos desde o lançamento do Proálcool, que os agentes contarão com uma regulação que lhes garanta previsibilidade. Outra vantagem do modelo apontada por Nastari é a de que a indução a ganhos de eficiência é feita tanto na produção quanto no uso, sem intervir diretamente no mercado. “O comércio de créditos de descarbonização mitiga distorções verificadas em outras políticas de incentivo”, afirma. “Do ponto de vista de regulação, não implica subsídio e é superior a alternativas como o estabelecimento de tributo sobre carbono, porque é uma solução que no longo prazo induz o menor impacto possível nos preços de toda a cadeia, beneficiando os consumidores.”

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Entrevista com Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV-EESP. Ex-ministro da Agricultura.

Publicado na Conjuntura Econômica 09/2017

 

“Aumentar impostos do agro tiraria nossa competitividade”

O agronegócio tem colaborado para tirar o país da recessão. E a recessão, como tem impactado o agronegócio?

Do ponto de vista da recessão, dois temas são os mais relevantes: o mercado interno mais fechado, e uma oferta de insumos financeiros mais relativizada. No primeiro caso, apesar de o alimento ser o último a ser contingenciado, pode-se observar redução de demanda em alguns produtos agrícolas, pois as famílias brasileiras estão comprando menos. Só não sofremos mais, no agregado, devido ao mercado externo, que é altamente demandante. O outro lado é que a recessão reduz algumas variáveis fundamentais para o produtor rural, como o crédito, pois as taxas de juros não são animadoras. Com uma inflação em torno dos 3,5%, e a Selic por volta de 9%, isso dá um juro real de mais de 5%, o que para a agricultura é muito caro em qualquer país do mundo. Mas o grande fantasma nesse aspecto de redução de alavanca é o seguro rural, que é de longe a mais importante plataforma para um agro competitivo e duradouro, e que infelizmente tem tido seus recursos fortemente contingenciados. Além desses dois elementos, existem ainda consequências indiretas que têm a ver com o problema político, que é a ausência de investimento. Recebo com frequência investidores que querem vir para o Brasil, por exemplo, para o setor de infraestrutura logística. Mas eles não têm confiança. O que vai acontecer? O presidente vai ficar? O que acontecerá nas eleições do ano que vem? Haverá segurança jurídica? Com tantas dúvidas, não há investimento. Isso é um problema, porque o maior gargalo do agro talvez seja a infraestrutura.
 
O lançamento do Programa de Parcerias de Investimento (PPI) no ano passado, com bases mais pró-mercado, não mitigou essa insegurança?

Não. Do ponto de vista do investimento consistente, há muito pouco acontecendo. O problema é de falta de confiança, que é uma questão decorrente da frente política, não da econômica. Já não é mais um problema fruto da recessão, mas colabora para piorá-la. Sem investimento não tem emprego, o círculo virtuoso não roda, e o agro sofre.
 
Hoje economistas apontam que a retomada do crescimento não será suficiente para conter a trajetória da dívida pública – devido à queda da participação da indústria no PIB, onde se concentra a tributação –, e o reequilíbrio da receita dependeria de revisão da participação do agronegócio e do setor de serviços na receita tributária. Qual sua opinião?  
Você está me perguntando se a agricultura paga pouco imposto? Essa é uma questão recorrentemente tratada na área internacional. As pessoas de certa forma acreditam que pagamos pouco imposto, e por isso temos privilégio em relação aos países concorrentes, principalmente os de primeiro mundo. Há mais de uma resposta para isso. A mais importante vem de um estudo da OCDE que mostra qual a porcentagem de subsídio que a agricultura recebe em relação a seu próprio PIB. O subsídio brasileiro corresponde a 3% do PIB do agronegócio, e só não é menor que o da Nova Zelândia, que é de 2%. Nos outros países, é muito maior: 15% nos Estados Unidos, 16% na Europa, se não me engano. O fato é que o nosso subsídio é o segundo menor do mundo. Isso somado a uma logística tacanha, precária, e um juro elevado. Então, se é bem verdade que a tributação sobre o agro não é uma tributação consentânea com os demais setores, na outra ponta somos competitivos mesmo frente a fatores negativos quase insuperáveis. Por isso, acho que aumentar a carga tributária da agricultura tiraria nossa competitividade para além dos fatores negativos que já existem hoje, pesando no custo de produção.
 
Qual, em sua opinião, é a forma menos daninha de lidar com o tema?

Acho que o caminho pelo qual se pode trilhar é via imposto de renda.  

Há um mês, o senhor publicou artigo defendendo a criação de uma “Plataforma Brasileira de Alimentação para Todos”. Qual o objetivo dessa iniciativa?

Essa é uma forma de transformar o tema da segurança alimentar global num assunto de interesse de qualquer brasileiro, e não só do produtor rural. E uma forma de colocar o agro como prioridade dentro de um programa de desenvolvimento que aproveite uma vocação do país. Esse, por exemplo, foi o modelo escolhido pela Índia quando entrou em TI; e pela Coreia do Sul quando investiu no segmento eletroeletrônico. É uma plataforma que implica o envolvimento de um programa de governo.
 
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Esperança que vem do campo

Publicado na Conjuntura Econômica 02/2017
 

Se no terreno dos indicadores macroeconômicos o ano de 2017 começou com a boa notícia de que a inflação oficial de 2016 ficou dentro do teto da meta, caindo de 10,71% em 2015 para 6,29% e abrindo espaço para a desejável redução da taxa de juros básica (Selic), na frente produtiva, o alento veio novamente do campo. Seja pela medição da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que leva em conta o ano-safra (de julho do ano anterior a junho do ano de referência), seja pela do IBGE, que trabalha com o ano gregoriano, as estimativas são de que a safra de grãos de 2017 será recorde, 215,3 milhões de toneladas segundo a Conab, 213,7 milhões pelos cálculos do IBGE na terceira etapa do seu Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), se o regime de chuvas seguir favorável.
 

Mesmo com o mercado interno ainda cambaleante, com o Produto Interno Bruto (PIB) não devendo crescer mais de 0,3%, segundo a última estimativa do Boletim Macro IBRE, da Fundação Getulio Vargas, após dois anos consecutivos de recessão severa, a demanda internacional firme gerada por um crescimento global de 2,8%, segundo o FMI, deverá garantir aumento da receita do campo, tanto para produtos agrícolas quanto para a pecuária. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o Valor Bruto da Produção (VBP) rural crescerá 2,3% em 2017, alcançando R$ 554,2 bilhões.
 

O VBP agrícola crescerá 3,4%, impulsionado por um aumento de 6,2% no valor da safra de grãos, enquanto na pecuária o crescimento será de apenas 0,4%, consequência de uma queda de 0,5% no VBP da carne bovina. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o fraco desempenho da economia doméstica somado a fatores que contribuirão para o aumento da oferta, como a queda no abate de matrizes nos últimos três anos e a maior disponibilidade de boi gordo gerada pela redução do abate de animais em confinamento no ano passado, tendem a pressionar para baixo o preço da carne bovina, ao menos neste primeiro semestre, reduzindo a rentabilidade ao produtor.
 

Embora nas medições oficiais do PIB feitas pelo IBGE a agropecuária tenha um peso reduzido, próximo a 5% do total, quando se somam à produção rural primária os valores referentes a insumos, à atividade agroindustrial e aos serviços gerados pela atividade no campo, o número global ganha robustez. Com base nessa metodologia, os técnicos da CNA calculam que em 2017 a contribuição da agrope­cuária para o PIB brasileiro será de 23%, até um pouco menor do que os 23,5% estimados para 2016, consequência de uma baixa contribuição vinda da agroindústria. Confirmada a estimativa da CNA, o PIB do agronegócio cresceria em 2017. A redução se explica, mesmo com uma expectativa de aumento de 2% desse PIB agrícola ampliado este ano, porque é esperado algum crescimento do PIB total do país em 2017, enquanto em 2016 estima-se que houve uma recessão de aproximadamente 3,5%, enquanto o PIB do agronegócio teria crescido entre 2,5% e 3% segundo a metodologia da CNA.

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