16º Encontro Regional Sudeste de História Oral – História Oral entre Lusofonias, Africanidades e Diásporas. Rio de Janeiro, 14 a 16 de outubro de 2025
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A História Oral entre lusofonias, africanidades e diásporas
Passado o período de isolamento social imposto ao país e ao mundo desde 2020, a retomada dos encontros regionais da Associação Brasileira de História Oral em formato presencial tem sido uma ocasião para voltar a reunir os pesquisadores da área e a produzir novas trocas de conhecimentos, fazeres e experiências em história oral. A vinda da comunidade de oralistas ao Rio de Janeiro em outubro de 2025, para a décima sexta edição do Encontro Regional Sudeste da ABHO, é uma oportunidade para a reunião de pesquisadores de universidades, museus, centros de memória e de movimentos sociais sediados não apenas nos estados do Sudeste, mas em todo o Brasil, em edição que neste ano será realizada no FGV CPDOC e no MUHCAB, o Museu de História e Cultura Afro-brasileira.
O Encontro ocorre justamente no ano em que o Programa de História Oral da Fundação Getúlio Vargas completa 50 anos de fundação e existência (1975-2025), efémeride que coincide com a realização de um dos primeiros cursos de História Oral realizados no país. Trata-se, pois, de um momento de comemoração institucional e de mobilização da própria história da História Oral no Brasil, o que abre margens para balanços e reflexões retrospectivas, na esteira das celebrações dos 30 anos de criação da Associação Brasileira de História Oral, comemorada no ano passado (1994-2024), durante o Encontro Nacional.
Mais do que um olhar pura e simplesmente retrospectivo de um Centro de Pesquisa e Documentação que vem contribuindo desde os anos 1970 para a consolidação de métodos, técnicas e acervos desse domínio, a efeméride nos interpela e desafia a projetar os cenários teóricos, metodológicos e empíricos da História Oral no presente e no futuro. Foi esse inclusive o mote para a realização do 22º Encontro da Associação Internacional de História Oral (IOHA), que em 2023 aconteceu pela segunda vez no Brasil e também nas dependências da FGV CPDOC, quando abordou-se a temática da “História Oral em um mundo digital e audiovisual”.
O desafio projetivo convida os investigadores e praticantes a pensar a História Oral à luz das lusofonias, das africanidades e das diásporas, isto é, convida-se a ir além das perspectivas “naciocentradas” e dos discursos alicerçados sob o paradigma científico do etos nacional. A relação das oralidades africanas com a língua portuguesa tem sido colocada de forma mais transversal desde pelo menos os anos 1990, quando da criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a CPLP, vinculada à UNESCO desde 2000.
A conexão das vozes brasileiras com aquelas que atravessam o Oceano Atlântico busca, por exemplo, ir ao encontro das realidades tão pouco conhecidas dos países africanos de língua portuguesa (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe), que há 50 anos atrás se libertaram do jugo colonial e que iniciam seus processos de construção e reconstrução da memória coletiva, a repercutir a miríade de falares étnicos e de saberes autóctones represados pelos ditames da colonização. Isso sem esquecer a prática lusófona vigente no continente asiático, como Macau e Timor Leste, de que tão pouco temos conhecimento.
A aposta no diálogo e na escuta dos temas além-mar, bem como das questões traumáticas e sensíveis que perpassam a formação de países ligados por uma história constituída por uma língua em comum visa refletir sobre as potenciais sinergias ensejadas pela História Oral.
Se o ensino de História Afro-brasileira e da África é uma realidade escolar que vem se colocando nos últimos anos, o quanto os historiadores que trabalham com as fontes orais podem estimular o conhecimento multifacetado de sociedades via de regra silenciadas ou esquecidas por dramas seculares e resilientes preconceitos? De que modo as mobilidades e migrações em escala global produzem novas configurações, encontros e desencontros no mundo contemporâneo? É esse o convite que a presente Reunião traz a seus participantes, por meio de mesas e conferências com personalidades e questões de importância para a sociedade brasileira, povos africanos e demais comunidades lusófonas.